segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Assim...

Cai uma chuva fina lá fora.
Dentro do quarto, debaixo das cobertas, mas mesmo assim sentindo frio. Não era onde gostaria de estar, mas é onde pode e o lugar que à acolhe agora.
O quarto esta vazio, com um silêncio que chicoteia os pensamentos, se conseguisse pensar em algo. Tudo começa a girar e aquele vazio começa a tomar conta.
O travesseiro já não cabe mais lágrimas e já se encontra todo amassado por ter sido apertado várias vezes. No lugar dos apertos no travesseiro gostaria de ter dado abraços, mas não tinha ninguém.
Sente o cheiro da chuva e começa a se lembrar de outros cheiros. Sente a coberta escorregar pelo corpo e sente falta de abraços, novamente aperta o travesseiro.
Melhor trocar a fronha, já está completamente encharcada de lágrimas.
Por que se sente assim?
Está esperando algo que não vai chegar. Quer receber algo que não vai receber. Então adormece.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Apenas um relato.

             A água estava relativamente quente, mas não me incomodava pois a frieza que meu corpo se encontrava não me deixava sentir a temperatura exata da água.
            O cheiro do sabonete começou a tomar conta do banheiro juntamente com o vapor da água quente. De repente me vi sentada na cadeira que fica no banheiro, sendo tocada pela água quente e sentindo cada gota escorrer pelo meu corpo e chegar aos meus pés.
            Aquele banho que levaria alguns minutos já estava se estendendo demais. O cheiro do shampoo começou a embrulhar meu estômago e a simples dor de cabeça que antes eu estava sentindo agora estava passando para uma enxaqueca da forte. Ficar no chuveiro para pensar não estava me parecendo uma boa ideia. 
           Sai com o roupão mais grosso que tinha no banheiro e a toalha nos cabelos, o frio fora daquele banheiro estava de doer os ossos. Já deitada na cama com a roupa mais quente que achei no meu armário, peguei um livro para ler, mas não conseguia me prender a história e vamos combinar não era nada interessante, sabia exatamente que só estava lendo para parar de pensar um pouco.
         Meu facebook estava aberto e aquele barulhinho de alguém te chamando começou a soar, não tinha reparado que havia deixado o computador ligado quando fui tomar banho. Era Catarina com suas lamurias sobre o carinha que estava afim.

Catarina: Amiga L ... amiga??
         Amiga??? Tá ai? Preciso cv..
Eu: Fala amg, o que foi?
Catarina: eu não sei o que ele quer...vem cv comigo, fala aquele monte de coisa fofa depois nem olha na minha cara...
Eu: e o que vc fala com ele?
Catarina: Eu não falo nada, só mando risadas e aquela carinha fofa assim *-*

         As lamurias de Catarina não estavam me ajudando e nem eu conseguia falar uma palavra que prestava para ela.

Catarina: Amg, vc tá bem? Não ta falando coisa com coisa.
Eu: Desculpa amg, tenho que dormir, estou cansada... por isso. Vai ficar tudo bem viu? Qualquer coisa me manda sms ou liga.
Catarina: Ok, digo o mesmo pq vc não parece nada bem.

         Ir dormir parecia uma ótima ideia, mas não quando o relógio ainda marcava 20:00 horas. Mesmo relutando na cama para conseguir dormir por ser cedo eu não levantei e continuei deitada até pegar no sono, também não olhei as horas. Ter pego no sono me fez bem, o dia já estava me matando e aquela velha história de dormir cedo para o dia acabar mais rápido sempre me ajudou.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O quarto 33

Era noite alta e o vento gelado movimentava a cortina do quarto 33, onde estava internada Malu. Era uma menina de 7 anos, e apesar da luta contra o câncer que carregava, não deixava de mostrar seu sorriso cativante para aqueles que contribuíam com a sua melhora. A madrugada já ia alta, eram cerca de três horas da manhã e Malu se revirava na cama do hospital, sem conseguir dormir. Ouvia as gostas dos medicamentos caindo lentamente e entrando em suas finas veias. A dor era intensa e sua inquietação crescia cada vez mais.
Quando já não suportava mais aquela situação, pediu a sua mãe para que chamasse a enfermeira. Ao entrar no quarto, a enfermeira, assustada com o horário em que a criança estava acordada, ouviu o clamor da pobre menina. Malu pedia pela presença dos Doutores da Alegria, um grupo de palhaços que a visitavam periodicamente e a distraia com brincadeiras, fazendo a dor que sentia com os medicamentos passar momentaneamente. Ao ouvir o pedido da criança, a enfermeira se sentiu comovida, mas como sabia que naquela hora os Doutores da Alegria não estavam no hospital, procurou outra saída. Em sua bolsa havia um palhaço de brinquedo que comprara para seu filho. Lembrando então deste, ela o levou para a menina, como forma de amenizar sua dor, explicando que não havia como chama-los no momento e que ao amanhecer ela receberia a visita dos palhaços de verdade. Triste, porém conformada, Malu abraçou o boneco e sentiu seus olhinhos pesados de sono, pois a enfermeira havia lhe dado um remédio para dormir.
Ao amanhecer Malu já não sentia tanta dor, e sua fisionomia melhorava aos poucos. Logo cedo, os Doutores da Alegria bateram a sua porta e encheram sua manhã de alegria. O dia passou, e a menina nada mais sentiu.
A noite avançava e o silêncio tomava conta do hospital. Malu dormia profundamente e nada mais perturbava seu sono. Em plena madrugada, novamente às três da manhã, a menina acordou com barulhos na cortina e pensando ser somente o vento, voltou a dormir. Porém, ao virar na cama, sentiu a presença de alguém, e ainda com os olhos fechados, chamou por sua mãe que não a respondeu. Para sua surpresa ao abrir os olhos notou que o palhaço que ela havia ganhado da enfermeira estava em pé ao seu lado, emitindo uma forte luz vermelha através de seus olhos. A garota, assustada, começou a gritar desesperadamente, mas não conseguia emitir som algum, pois a luz que saia dos olhos do boneco a impedia de pedir ajuda. O palhaço agarrou seu pescoço e com uma voz grave que a deixava paralisada de medo, indagou: “Sua vida agora me pertence! Tudo o que eu mandar você vai fazer se não... VOCÊ VAI MORRER!!!”. Ao soltar o pescoço da menina o palhaço voltou a ser apenas um brinquedo, e a menina caiu em um sono profundo.
Na manhã seguinte Malu acordou achando que tudo não passava de um pesadelo, e não se preocupou com o ocorrido. Seu dia fluiu normalmente, seguindo a mesma rotina de sempre. A noite caia e Malu se preparava para dormir, quando percebeu que havia algo debaixo do seu travesseiro. Era o palhaço que havia voltado e estava a encarando, com seus olhos vermelhos e ainda mais iluminados. Os gritos novamente não saiam e ela não sabia mais o que fazer. O boneco, sem nenhum escrúpulo, e com os olhos cada vez mais vermelhos, a torturava. Fez então sua única e dolorosa exigência: “Você deve matar sua mãe e me entregar o coração, e se não fizer sabe que morre...”. A menina desesperada com o pedido do boneco entra em desespero mas antes que pudesse pedir misericórdia adormece. Ao acordar vê sua mãe sentada no sofá do quarto, que ficava ao lado da cama, bordando uma toalha, e desaba em lágrimas deixando sua mãe e as enfermeiras preocupadas com a situação. Assim seguiu a semana de Malu, noite após noite sento torturada pelo boneco do mau, e ouvindo suas cobranças em matar a mãe e lhe entregar o coração.
O quadro da menina já não andava bom, após as noites de tortura a garota amanhecia cada dia pior e os médicos não conseguiam encontrar a causa dessa piora. A menina que andava respondendo bem ao tratamento estava chegando ao fim de sua vida, por conta das noites sendo torturada pelo palhaço de brinquedo.

Em uma noite, Malu já não suportava mais as dores e como já estava no fim de sua vida fingiu que estava dormindo e espera sua mãe se retirar do quarto, como fazia todas as noite para orar pela menina. A garota se levantou da cama, arrancou os aparelhos de seu corpo, pegou o boneco em seu colo, e caminhou lentamente e com muita dificuldade até a janela, se jogando do quarto andar, caindo no jardim do hospital. A garota se matou, deixando então sua mãe viva e apenas uma carta escrita com letras tremulas: “Enterre o boneco comigo”.

domingo, 10 de março de 2013

Voltei

- Olha, quanto tempo não te vejo..
- Pois é voltei.
- Segurou tanto que agora não aguenta mais e veio né?
- Tava tentando não pensar nisso.
- Pensar em que se você nem sabe o que é!
- Mas é isso que mata, acha que tá acontecendo algo mas não saber o que é!!!
- E como você demorou tanto para vir?
- Eu ocupava minha cabeça com outras coisas, mas sempre caia nessa questão.
- Você tá bem?
- Agora não mais, to incomodada mas ao mesmo tempo acho que é só coisa da minha cabeça.
- Já procurou saber se é ou não?
- Ainda não.
- E o que te impede?
- Medo?
- Medo de que?
- De ser alguma coisa.
- Mas você não acha que se for e você ficar sabendo logo é melhor?
- Talvez...


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Quem?

- Não faz isso...
- Ai, não faz isso você..
- O que eu fiz?
- Me assustou, chega do nada.
- Se assustou? Mas foi você quem me chamou
- Mentira.
- Verdade, me chama sempre quando pensa em algo que sabe que não deveria estar pensando, ou então quando quer colo mas não tem um por perto.
- Eu não me lembro de ter te chamado aqui.
- Você me chama respirando fundo.
- E ai?
- E ai eu venho.
- Mas o que você faz?
- Ah, eu fico aqui, ai a gente conversa e você começa a falar um monte de coisa e eu começo a te perguntar um tanto de coisa.
- E pra que faz isso?
- Te fazer perguntas? Pra você chegar a uma conclusão saudável. Eu sou o que posso dizer o seu lado mais maduro.
- Então você sou eu?
- Sim.
- Existe o seu lado oposto?
- Sim, mas que nunca o vejo, eu só vejo a bagunça que ele faz.
- Como assim?
- Ah! Eu vou passando por aqui ai vejo uma zona, ai você respira fundo, então eu sei que tá na hora de chegar e dizer oi.
- Tenho medo de você.
- Convive comigo a tanto tempo e agora que tem medo. Não precisa disso.
- Deixa eu ver se entendi. Eu converso com você o tempo todo, você me ajuda a chegar a uma conclusão só fazendo perguntas...
- As vezes eu dou a resposta.
- Enfim, eu te chamo respirando fundo, você tem um lado oposto que nunca viu mas vive arrumando a bagunça que ele faz, e se diz o meu lado maduro. Isso?
- Sim, sou um psicologo dentro de você mesma.
- Estranho, mas interessante.
- Mas não mude de assunto, já entendeu quem eu sou. Me diz ai, estava pensando aquilo pra que se sabe que não vai dar certo, perda de tempo e de uma coisa que você sabe que vai fazer muita falta depois.
- Só estava pensando sabe, tô vulnerável caramba.
- Eu sei, se não estivesse eu não estaria aqui né.
- Você também sabe ser grosso.
- Sou você.
- Eu só pensei, só isso.
- Me conta mais sobre isso.
- Então...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Espaço

- Tá vendo aquele canto ali?
- Sim, o que tem ele?
- Tinha algo ali.
- E porque não tem mais?
- Não sei. Talvez porque não era para estar ali, por isso não está mais.
- E agora?
- Tenho que arrumar outra coisa para colocar no lugar, já que o que tinha ali não era para estar ali, tenho que achar o que realmente deve ficar. entendeu?
- Tem que procurar alguma coisa para colocar no lugar daquilo que não está mais por não ser ali que ela deveria estar?
- Sim, isso mesmo.
- Mas porque não deixa esse espaço ai, vai que a coisa volta.
- Não, acho que não volta mais.
- Afinal, o que tinha ali?
- Não me lembro, mas ta fazendo falta, porque se deixou um espaço e eu notei.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O teto

- O que você está fazendo?
- Deitada olhando para o teto...
- Mas para que?
- Já percebeu como o teto é irregular?
- Já uai, nunca vi nenhum pedreiro fazer um teto completamente perfeito.
- Ele é torto, a luminária não está no centro certinho. Olha esse, tem furinhos...
- Tá, e daí.
- Você também tem furinhos?
- Ãh?
- As vezes eu paro olho para o teto e vejo que também sou assim...
- O que tinha no café que você tomou?
- Tenho falhas, e tenho furinhos também. Tenho mágoas...
- Não entendi... você está se comparando com o teto?
- Os furinhos no teto não são coisa boa, pode entrar água, e pode alagar tudo estragando tudo. A mesma coisa em mim, ter mágoa pode me estragar. Não é bom continuar com esses buraquinhos no teto, mas principalmente não é bom continuar com esse buraquinhos dentro de mim.
- Tá bom, eu passo massa no teto e arrumo isso.
- Arrumar o teto é fácil, pois é só um teto, coloca massa e tampa os buraquinhos. Me arrumar é difícil, não dá pra colocar massa e tampar os buraquinhos, é mais complicado.
- E como quer tampar os seus buraquinhos?
- Com o tempo, mas não adiantar eu deitar aqui e esperar passar , tenho que me arrumar primeiro, se eu continuar a mesma não vou conseguir tampa-los.
- Quer ajuda?
- Não, acho que isso eu tenho que fazer sozinha